domingo, 16 de janeiro de 2011

Dica de Filme: Zuzu Angel


Olá, queridos leitores! Como vocês devem ter visto na caixinha aí do lado, estou lendo o livro Ministério do Silêncio, de Lucas Figueiredo, que já teve sua resenha postada aqui no blog pelo Sr. Nayoara, Wellison Santana. Para quem ainda não viu, é só clicar aqui. Bem, em poucas palavras, esse livro conta a história recente do Brasil pelos olhos do nosso serviço secreto (sim, senhores! Temos um!), o qual foi criado no governo de Washington Luís e teve o auge de sua atuação na época da ditadura militar.

Pois bem. Numa rápida passagem desse livro é contada a história da morte do estudante Stuart Edgard Angel Jones, um jovem guerrilheiro de 25 anos, integrante do grupo de esquerda MR-8 (liderado por Carlos Lamarca), que foi capturado pelos militares por azar (passou no meio de uma emboscada do governo preparada para outro guerrilheiro) e acabou morto depois de uma das mais sinistras sessões de tortura praticadas pelos militares de que se tem notícia – os militos queriam o local do refúgio de Lamarca, mas Stuart bravamente resistiu e morreu sem delatar seu líder.

Quem já estudou um pouco de História do Brasil sabe que ele não foi o único e que o número de casos como o dele é enorme. Mas Stuart é diferente. A mãe dele fez o caso de Stuart ser diferente. Quem é a mãe dele? Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel, uma estilista famosa na década de 70, que incomodou (e muito) o governo militar depois da tortura e morte de seu amado filho. E a dica de hoje é o filme “Zuzu Angel”, o qual conta toda essa história sob o ponto de vista de Zuzu.

Pra mim, esse filme é um dos poucos filmes nacionais de que podemos nos orgulhar. Produzido em 2006, foi dirigido por Sérgio Rezende e tem um elenco hiper competente: Patrícia Pillar (Zuzu Angel), Daniel de Oliveira (Stuart Angel), Leandra Leal (Sônia, esposa de Stuart), Alexandre Borges e Luana Piovani interpretando Elke Maravilha, grande amiga de Zuzu e que também deu uma ponta no filme.

Zuzu Angel (o filme), como se pode prever, é cheio de emoções fortes. Patrícia Pillar consegue transmitir toda a dor e revolta de uma mãe que perde o filho de forma brutal e a força que ela teve para desafiar o sistema assassino, fazendo com que o espectador também sinta vontade de lutar pela sua causa e afrontar o silêncio cínico daquele governo – coisa que pouquíssimos tiveram coragem de fazer naquela época. Pena que não se pôde dar um final feliz à pobre protagonista (filme biográfico tem que ser fiel à história, né?).

Como já disse, o filme é contado pela própria Zuzu, que gravou uma fita contando sua história, pois temia que os assassinos de seu filho fizessem a mesma coisa com ela. Assim, partimos do “quase fim” – Zuzu gravando a tal fita – e somos apresentados aos fatos por meio de flashbacks. Por eles vemos que Zuzu era empresária, capitalista, focada apenas no sucesso de seu negócio e que pouco se importava com o que estava acontecendo no país, ao contrário de Stuart que logo se encantou pela doutrina socialista e ingressou no movimento estudantil para defendê-la e tentar mudar o caminho que o Brasil estava tomando depois da revolução militar.

A morte de Stuart é o turning point da vida de Zuzu. Depois disso, ela passa a viver para desmascarar o teatro militar – sempre mostrando que nada de mal estava acontecendo nos porões da ditadura – e tentar enterrar o corpo de seu filho (o qual nunca foi encontrado). Vale dizer que tudo o que foi mostrado no filme realmente aconteceu – o telefonema “Paulo caiu”, a carta descritiva da morte, os despachos negando a prisão de Stuart, o julgamento do fantasma, o falso acidente de carro, etc. Digo isso porque tudo é repetido igualzinho no livro Ministério do Silêncio, que foi resultado de uma grande e detalhada pesquisa, me deixando confortável para dizer que o filme Zuzu Angel é fiel à história real no qual é baseado.

Vale lembrar que Stuart foi morto na época do governo de Emílio Garrastazu Médici, o mais sangrento de toda a ditadura militar. Nós que não vivemos a ditadura temos uma visão muito fria dos fatos, mas quando se vê imagens fidedignas do relato de uma pessoa que sofreu as barbaridades dessa fase obscura e não tão distante de nossa história dá pra ter uma noção melhor do que nosso país teve que passar para sermos o que somos hoje e o que nossa presidenta quer dizer quando diz que prefere o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras. Só por isso valeria a pena ver esse filme. Mas ajuda muito ele ser bem dirigido, bem contracenado, bem produzido (você realmente se sente na década de 70! Do figurino aos cenários, tudo parece ter sido muito bem planejado) e ter um roteiro bom, não é verdade? =)

É isso, pessoas. Essa é minha dica de hoje. Pode ser um pouco difícil de achar pra ver, mas vale a pena o esforço da procura. Pode confiar!

Bom fim de semana!!

PS: No final do filme, Zuzu recebe uma fita enviada por Chico Buarque com a música Apesar de você e os créditos finais são mostrados ao som de Angélica, que Chico fez em homenagem a ela. Como música de Chico Buarque sempre é uma delícia, esses links aqui e aqui mostram letras e clipes. Abraços!

Um comentário:

  1. uma pergunta, o livro foi baseado no filme, ou o filme no livro???? obrigada

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